terça-feira, 14 de setembro de 2010

Aquário dos animais




s. título, 2009
acrílica sobre tela
56 x 41 cm 



s. título , 2009
acrílica sobre tela
31 x22 cm


                                                  
s. título, 2009
acrílico sobre tela
29 x22 cm



s. título, 2009
acrílica sobre cartão
49 x40 cm 



s. título, 2009
acrílica sobre cartão
49 x40 cm 



s. título, 2009
acrílica sobre cartão
49 x40 cm 



s. título, 2009
acrílica sobre cartão
49 x40 cm 



s. título, 2009
acrílica sobre tela
36 x29 cm 



s. título, 2010
acrílica sobre tela
85 x20 cm 


s. título, 2009
acrílica sobre tela
50 x 20 cm 


s. título, 2009
acrílica sobre tela
56 x70 cm 



s. título, 2010
acrílica sobre tela
54 x72 cm 



s. título, 2011
acrílica sobre tela
79 x106 cm




s. título, 2011
acrílica sobre tela
73 x105 cm


A grande oferta, 2011
acrílica sobre tela
86 x51 cm


s. título, 2010
acrílica sobre tela
88 x63 cm 


s. título, 2010
acrílica sobre tecido
102x73 cm 



s. título, 2010
acrílica sobre tela
63 x75 cm 



s. título, 2010
acrílica sobre tela
49 x71 cm 



Aquário dos animais, 2010
acrílica sobre tela
99 x86 cm 



s. título, 2010
acrílica sobre tela
79 x75 cm 



s. título, 2010
acrílica sobre tela
79 x80 cm 



s. título, 2010
acrílica sobre tela
45x58 cm 


s. título, 2010
acrílica sobre tela
67x79 cm 



s. título, 2010
acrílica sobre tela
83 x105 cm 


“Isola!”
Malinowski me deixa contrariado quando leio sobre o conceito de magia. O antropólogo defende a prática como algo extraor­dinário e não-cotidiano nas sociedades dos “selvagens”, de forma que a magia é o artefato a que se dispõe nos momentos mais incertos e duvidosos. Ela interfere na vida das pessoas com a possibilidade de solucionar e viabilizar explicações que não se bastam no universo da sabedoria e análise desses povos. Sabemos que Malinowski foi criticado e revisado por numerosos antropólogos e cientistas sociais do século XX, e a sua posição sobre o magismo primitivo também. Considero importante verificar a base de todo o pensamento científico como uma forma de entendimento da análise do tempo em que a teoria fora lançada, como material de estudo do desenvolvimento do pensamento humano, e numa característica um pouco fatalista, imagino a reação das pessoas em torno de devidos conceitos e tabus, que incensados pelo conhecimento e a ciência (quase sempre errante e perigosamente passiva), recorrem ao turbilhão de comportamentos “adequados” ao seu tempo; algo que reside no mais humano dos dons – a consciência. Abomino então toda e qualquer expressão que sugere que alguma pessoa/coisa “está à frente de seu tempo”.
Mas a magia. Não seria um ato cotidiano, bem absorvido, difundido e muito vasto mundo afora? E não é também algo que paira entre o ordinário e o especial; que celebra e tem diversas intenções, interpretações? A magia foi mitificada e ao mesmo tempo, desnudada. Entre figas, olhos gregos ou turcos, o ato de tocar três vezes na madeira e dizer “isola!”, esses amuletos e palavras aparentemente inocentes e adotados carinhosamente pela nossa linguagem corporal brasileira, sul-americana, mundial. Truques que se amontoam ao nosso repertório de significados. Isso não é o interesse pelo ocultismo ou práticas místicas antigas, mas a maneira como algo disso tudo passou a existir nas vidas mais materialistas ou religiosas, mas bem improváveis. A magia que trato aqui é caseira, às vezes desleixada.
Aquário do mundo
Tatiana Cavinato me chama para dizer o que ouviu: o mais profundo é a pele. Quando começamos a conversar sobre as pinturas que compõem essa exposição eu já sabia o que queria dizer a ela, mas ainda havia algo para complementar todas aquelas palavras que guardo desde 2008 e dos desenhos da sua exposição Self- Service.
O contexto urbano e público aqui não é essencialmente masculino, por isso não guarda o que há de feminino apenas no ambiente doméstico e privado. As figuras não necessitam de limitações de gênero, porque são mascaradas e livres, máscara para mostrar e não para esconder.
Toda a cena se configura aos poucos após a primeira ação que é pintar, dar cor. E ela me diz que a figura faz influenciar a cor, por­que não surge como imagem pronta. Nós procuramos a ironia por causa da minha necessidade em ver a gentileza que as imagens me sugerem e a naturalidade que tudo se apresenta.
Observadora da rua, da linguagem e dos sentidos e fins que as pessoas querem ou não dar a suas falas e gestos. A acidez está na subversão desse observar, que vai de encontro com a sua narrativa pessoal e onisciente na imagem. Entra na história que vai con­tar.
Os trabalhos são feitos geralmente à noite, com música, em um ateliê cercado de árvores e guardado por cachorros agitados. Como se um filme mudo passasse veloz, mesmo na hora em que as frases estão estampadas na tela. Gera a distorção de dentes desejosos de fecundar bocas excitadas, com os braços e corpos às vezes tensos ou bem calmos. Machos e fêmeas são deslocados pelo som da música, o carnaval que chega, a máscara que não desgrudaria da cara. Não se trata de uma festa terrena, pode ser que tudo seja espiritual. Não há problema sobre a sexualidade. Apenas tolerância.
Essa questão entre espiritualidade e cultura popular não se encontra somente no onírico. Ela é o reflexo do tempo e da memória; para quem se observa e no mesmo ambiente retrata duas figuras em posições diferentes, em corpos distintos e uma única perso­nalidade, consciência. Sem pretender explicar tudo ou tornar qualquer sugestão exagerada, essas pessoas retratadas numa ma­quiagem evidente querem manifestar um desejo do corpo de transcender entre e dentro de si. Vorazes e gentis nos assistem com uma perplexidade muda, jeito de saber os nossos caminhos.
Mauro Figueiredo

O novo e o ‘antigo’ homem
“a cor, pulsão de vida, assinala nessa pintura a passagem ao ato e o lugar do ato” Louis Cane
Em encontros espontâneos, se fundem e se confundem seres exóticos, elementos da natureza e do humano - o novo e o antigo homem se misturam. Novo, porque parte da transformação, o hibridismo do homem, homem-bicho, homem-coisa, a existência (precedida pela arte) de um novo ser que surge da infinidade de possibilidades com as quais o ser humano se depara todos os dias. Antigo porque traz a tona questões que permeiam a humanidade desde os seus primórdios, homem-primitivo. O nascimento, a gula, os dentes e pulsões, evidenciando aspectos inerentes à investigação da condição humana; instintos básicos e atemporais.
A simplicidade da forma, existente em alguns trabalhos, poderia ser comparada a ‘bad painting’ dos anos 80 se formos ressaltar a presença da ironia, que brinca e descarta questões da própria pintura. Ou nos remeter à outras correntes originadas no século XX como a “Fantasia” no que diz respeito ao domínio da imaginação, abstraindo ao máximo o mundo real, trazendo à tona toda a espontaneidade do artista diante de uma tela. Poderíamos ainda pensar sem hesitar, nos vestígios do expressionismo alemão, ou no neo- figurativo. Há sim inúmeras referências que perpassam as obras mas não esgotam a liberdade com que os elementos são utilizados ora sim, ora não, conforme melhor convir à cada situação.
Segundo a artista, a pintura não tenta ser acabada, ela fica no processo, no instante da criação. Vestígios do acúmulo de tentativas, o jogo e o trabalho do pintor culminando no extrapolar os limites do quadro, os limites do corpo, da realidade. Momentos de choque e carícia na constatação de que todos nós, humanos, temos maneiras semelhantes de colocar para fora nossas experiências mais secretas. A omissão, a simplicidade da forma em dias carregados de um certo mutismo.
O ser humano físico aqui surge como um intermediário entre o mundo psicológico interno e o universo exterior, nú, com todas as suas fragilidades e livre de pudores ou amarras. O que é a arte senão a extensão do ser, seus desejos mais obscuros seus caminhos mais secretos?
Ana Luiza Neves

Texto publicado no catálogo da exposição Aquário dos Animais 2011

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