“Em seu clássico 'La condition postmoderne', Jean François Lyotard
nos lembrava que o saber científico não é todo saber. No início da noite do
século XX ele remarcou a existência do ' saber narrativo', repositório dos
costumes, da identidade e da organização das culturas. Com valor evidente em
sociedades que rotulamos de primitivas, este saber narrativo foi quase um
motivo de vergonha para a cultura ocidental que tanto se esforçou para
travesti-lo com uma roupagem racionalista que simplesmente não lhe serve.
Um pensamento que parece ganhar momento em nossos dias considera
que, assim como a pesquisa básica em campos como a física ou biologia é o que
alimenta as tecnologias, endereçadas ao mundo das coisas, a Arte constitui o
campo de experimentação do saber narrativo é nela que valores e novas formas
de se pensar as relações humanas fazem sua primeira entrada em nosso ambiente
social.
O estranhamento que experimentamos diante dos trabalhos de Tatiana
Cavinato, tem este sabor de se arriscar para além das fronteiras do conhecido.
Nosso espírito 'testa', experimenta esta confusão entre papeis
masculino/feminino, humano/animal ou moral/imoral e vai na verdade muito além
daquilo que podemos identificar e nomear.
O simples 'representar' não é nada. É a sua forma de pintar,
trabalhar as camadas de tinta, compor, exibir, misturar refinamento e
precariedade que desnorteiam nossa percepção e acoplam novos significados, para
os quais, a única maneira de atingi-los é esta: a Arte’’.
«Wagner Lungov